Você já ouviu falar sobre membro fantasma? Existem relatos deste fenômeno desde o século XVI, trata-se da percepção continuada que algumas pessoas têm de seus membros que foram amputados. Embora estes membros não estejam mais ligados ao corpo, parecem que ainda estão. Por exemplo, alguém pode perder um braço, perna, pé, seio, mão, dedos e até órgãos internos e continuar a senti-lo. Às vezes, além de ter a sensação da existência deste membro, a pessoa ainda sente dores! Possivelmente o cérebro não processou a perda dele, e continua vendo-o como uma realidade existente.
Depois de uma amputação, alguns pacientes podem ainda sentir o membro ausente como uma sensação fantasma (formigamento, quente ou frio, dormência ...) ou dor fantasma (facada, tiro, ardor, dores ...), sendo que no caso da dor, ocorre em 50 a 80% das pessoas amputadas. Estes sentimentos são na sua maioria transitória, mas pode ser torturante. Essa dor é difícil de controlar, mas pode diminuir com o tempo, entretanto, ela pode comprometer a vida de uma pessoa tanto física como psicossocial.
Dor fantasma é neuropática: é uma dor crônica resultante de lesão no sistema nervoso. Como tal, é muito difícil de tratar. Ela representa um verdadeiro desafio médico, pois cada paciente deve ser analisando individualmente. Lent (2009) enfatiza que “suas manifestações podem variar desde um calor prazeroso até uma intensa coceira que não tem solução... porque não há o que coçar.” Por exemplo, na ausência de nervos periféricos, alguns sinais de dor não são inibidos e, portanto, são continuamente transmitida ao cérebro através dos neurónios da espinal medula. Além disso, a nível cerebral, vários estudos, foram realizados pelo médico Vilayanur Ramachandran e mostraram que numa amputação as áreas cerebrais ativadas eram as que anteriormente representavam o membro ausente.
Ramachandran e seus colaboradores constataram que a amputação não fez desaparecer as áreas cerebrais correspondentes, mas que essas áreas passaram a receber informação de outras partes do corpo. Pois nosso cérebro é cheio de mapas de localizações.
Para testar sua teoria, Ramachandran criou uma "caixa espelho" - um aparato que cria a ilusão visual de duas mãos para pessoas que na realidade só têm uma. Colocando os braços do amputado nos dois lados de um espelho - com o membro amputado ficando no lado não reflexivo da caixa - o paciente vê o reflexo de sua mão normal superposta no local onde deveria estar sua mão que não existe.
Os voluntários viram sua mão normal sendo espetada e relataram uma sensação real de que a mão faltante estava sendo espetada. Em outro experimento, quando eles viram a mão de outra pessoa sendo tocada, eles começaram a experimentar a sensação de toque em sua mão faltante.
Ramachandran afirma haver uma espécie de “plasticidade neuronal”, “plasticidade cortical” ou ainda “plasticidade neural” no cérebro, de modo que este pode se readaptar às mudanças sofridas pela imagem do próprio corpo, dado a maleabilidade que o cérebro possui em se reorganizar. Essa tese é defendida por outros autores, os quais afirmam que a representação cortical do membro sofre alteração após a amputação de modo que o cérebro aprende a lidar com a nova imagem do corpo devido a uma reorganização da rede neuronal.
Quando alguém perde uma perna, uma mão ou um braço, as mensagens do córtex motor na parte frontal do cérebro continuam a enviar sinais para os músculos do membro ausente. Posteriormente, uma parte do cérebro que controla os movimentos “não sabe” que o membro se foi.
Muito provavelmente esses comandos do movimento são simultaneamente monitorados pelos lobos parietais que afetam a imagem do corpo. Em pessoas normais, mensagens do lobo frontal são enviadas em conjunto ou através do cerebelo para o lobo parietal, que monitora os comandos e simultaneamente recebem o feedback do membro sobre a sua posição e velocidade do movimento. No caso do membro ausente, não há feedback do membro fantasma, é claro, mas a monitoração dos comandos motores pode continuar a ocorrer no lobo parietal, e assim o paciente tem a vívida sensação de movimento do membro fantasma (Ramachandran).
É importante que se diga que o cérebro demora a reconhecer que houve a perda de uma parte do corpo, e na tentativa de se readaptar, passa a organizar uma nova imagem corporal (Ramachandran)
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