Adolescentes obesas acreditam que ser magro é ser feliz

sábado, 10 de novembro de 2012 | 18:12 | Por 4 comentários

A conclusão da dissertação de mestrado "A representação social de um corpo magro por adolescentes obesas", defendida em maio de 2011 por Dressiane Zanardi Pereira na Faculdade na Universidade de São Paulo, sob orientação de Fernando Lefèvre, chegou a conclusão de que adolescentes obesas acreditam que ser magro significa fazer parte da sociedade, ser mais bem-sucedido, vencedor e feliz.


A pesquisadora entrevistou individualmente 32 alunas participantes do Programa de Atividades ao Paciente Obeso (Papo), oferecido gratuitamente desde 1996 por uma equipe multidisciplinar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O Papo busca promover o envolvimento das jovens em práticas de atividade física, alimentação adequada e autoconhecimento, além da diminuição do excesso de peso. O grupo que participou da pesquisa era composto por meninas com idade entre 13 e 16 anos, com condições sociais e físicas semelhantes.

O roteiro apresentado às entrevistadas continha três questões abertas. A primeira era “A que se deve o fato de você estar acima do peso?”. A grande maioria das respostas culpavam maus hábitos alimentares e compulsão alimentar devido a emoções negativas. “Muitas delas diziam que não tinham bons hábitos alimentares em casa e culpavam os pais por isso. É claro que os familiares têm parcela de responsabilidade, mas menos do que elas diziam. A maior responsabilidade é delas mesmas”, comenta Dressiane Pereira.

É importante salientar que meninas cujas famílias auxiliaram de maneira direta nas mudanças comportamentais tiveram melhoras muito mais significativas do que aquelas que não tinham tanto apoio em casa. “A adolescência é uma fase complicada. Você não faz compras sozinho, não decide tudo o que vai comprar, comer. Elas precisam do apoio dentro de casa para melhorar seus hábitos”, explica a pesquisadora.

A segunda pergunta era “O que você espera com o programa Papo?”. Constatou-se que a expectativa de todas as meninas era o emagrecimento. Algumas acrescentavam que pretendiam melhorar sua autoestima e sua saúde. “Algumas delas chegavam com comorbidades, por exemplo, colesterol alto. Por isso elas tinham consciência da questão médica”, explica Dressiane.

A última pergunta era “Se você for bem sucedida com o programa, se acontecerem as coisas que você espera, o que você acha que vai mudar na sua vida?”. A maior parte das respostas dizia que o sucesso no programa aumentaria a aceitação das pessoas, melhoraria a sua sociabilidade e acabaria com os preconceitos sofridos pela obesidade. “Elas acreditavam que com o emagrecimento a vida delas melhoraria em vários aspectos. Era como se tudo mudasse num passe de mágica. Mas não é assim que as coisas acontecem”.

Uma das principais autoras utilizadas no desenvolvimento do trabalho foi a psicanalista Maria Rita Kehl, que escreveu sobre o corpo na sociedade contemporânea, dizendo que ele foi promovido “ao mais fiel indicador da verdade do sujeito, da qual depende a aceitação e a inclusão social”. Em outras palavras, um corpo magro possibilita uma melhor interação social. É justamente essa ideia que se mostra presente no discurso das participantes.

Acho importante compreender como se sentem as jovens obesas e quais são as representações sociais que essas meninas tem sobre o corpo magro, pois isso pode ter um importante impacto em suas vidas. A estética magra ultrapassa a questão da saúde, passando a ser vendida muito mais como um padrão indispensável para que uma pessoa possa se inserir socialmente e mesmo ser feliz. Essas representações que permeiam nosso pensamento acabam influenciando nossos hábitos, alimentando transtornos alimentares como a anorexia nervosa e até mesmo promovendo preconceitos contra as pessoas que não possuem um corpo magro. Achei essa pesquisa interessante porque mostra um pouco sobre como esse ideal de felicidade que cerca o corpo magro é algo marcante nessas jovens - e é fundamental se estar atento a esses ideais, pois quando essa tal "felicidade" não é atingida, surge a frustração, que pode ter consequências sérias.

*Leia também: Transtornos Alimentares e Depressão
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4 comentários:

  1. Izabela minha filha é uam excessão pois pesa 105 quilos tem 18 anos e não tá nem aí para o peso, curte a vida na boa e tem muitos amigos e amigas e nunca sofreu bullying por ser obesa.

    abr

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    1. Ainda bem. Gostaria que todas fossem assim, pois é o certo. Apesar de se preocupar com a saúde, não devemos nos preocupar com a aparência ou julgamento dos outros a tal ponto. :)

      Abs ReBonelli

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    2. cuidado.. as vezes isso é um erro enorme os pais acharem que os filhos são bem resolvidos com o peso e não tao nem ai. na verdade te digo, passei a minha adolescencia com peso a mais e toda a gente sempre me admirou por eu ser tão bem resolvida sem problemas, inclusive tive varios namorados, mas o que não sabiam é que eu sofria sozinha. sorria para não chorar, defendia os mais fracos para os mais fortes nem se meterem comigo e tinha vergonha de ir a praia com as amigas, de tomar banho no ginasio etc.
      se vc gosta da sua filha de uma ajuda para ela emagrecer. pk kto mais cedo, mais facil vai ser. e menos probablidade dela vir a sofrer o que eu tenho sofrido.
      desculpe pelo desabafo mas minha mae tb pensava assim. desejo tudo de bom para vcs.

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  2. Toda vida fui magra, magrinha mesmo, mas não vi muita vantagem nisso, minhas amigas normais, nem gordas e muito menos magras me pareciam muito mais "aceitas" nos grupos do que eu, nunca me aceitei magra, tanto que lutei para engordar, pedi pra minha mãe me transformar em alguém um pouco mais pesada, se é que me entende. Eu sempre odiei ser magra, hoje em dia me aceito melhor, também tenho mais idade e a adolescência passou. Enfim, ser magro também é ruim. Mas o jeito é se aceitar e ser saudável, de resto não vale a pena deixar de viver e ser feliz por uma questão de peso.

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