Há muito tempo, o filósofo Descartes acreditava ter alcançado uma das verdades mais fundamentais ao proclamar: "Penso, logo existo." No entanto, será que podemos mesmo equiparar toda a nossa identidade de Ser, ao pensamento?
Eckart Tolle, autor de "O Poder do Agora", dizia que os pensamentos, as emoções, as percepções sensoriais e tudo o que sentimos formam o conteúdo de nossas vidas, e que tendemos a acreditar que nossa identidade vem do que chamamos de "minha vida". Porém, nós - nossa essência - não é o que acontece na nossa vida, não tem nada a ver com o conteúdo dela.
O pensamento é apenas mais um dentre os outros sentidos da percepção existentes. Em cada ser humano existe uma dimensão de consciência bem mais profunda do que o pensamento. E não estou falando apenas do inconsciente, que também é uma camada mais profunda além do pensamento consciente. Estou falando do que podemos chamar da essência de quem você é, uma consciência que está por trás, livre de condicionamentos.
Quando você se dá conta de que existe uma voz na sua cabeça que fala o tempo inteiro e pretende ser você, percebe que, de forma inconsciente, você vem se identificando com a correnteza do pensamento. Quando percebe isso, você compreende que não é essa voz, mas a pessoa que a percebe.
Se você consegue reconhecer, mesmo que esporadicamente, que os pensamentos que passam por sua cabeça são meros pensamentos - que nem sempre são verdade -, pois as vezes pensamos que alguém é de uma forma que ela na verdade não é, assim como os outros constantemente pensam coisas a seu respeito que não condizem com você... Se você conseguir se dar conta dos padrões que se repetem em suas reações mentais e emocionais, é sinal de que essa dimensão de consciência por trás do pensamento está emergindo.
A mente humana tem um imenso desejo de saber, de compreender e de controlar, por isso confundimos opiniões e pontos de vista com a verdade. É preciso ir além dos seus pensamentos para perceber que, ao interpretar "sua vida", ou a vida e o comportamento dos outros, ao julgar qualquer situação, você está expressando apenas um ponto de vista entre muitos outros possíveis. Nossas opiniões e pontos de vista não passam de um amontoado de pensamentos, a realidade é outra coisa. Ela é um todo unificado em que todas as coisas se interligam e nada existe por si só. Pensar fragmenta essa realidade, corta-a e distorce-a em pequenos pedaços, em pequenos conceitos.
Como dizia Tolle, "Qualquer tipo de preconceito mostra que você está identificado com a mente pensante. Mostra que você não está vendo o outro ser humano, está vendo apenas seu conceito sobre aquele ser humano. Reduzir uma pessoa a um conceito já é uma forma de violência." (Tolle, Eckhart. p. 27)
Por isso, vigia teus pensamentos. Pratique como exercício não levar seus pensamentos tão a sério. A corrente do pensamento tem uma enorme força - quase constante - que pode levar você muito facilmente, numa maré de sofrimentos e preocupações desnecessárias. Cada pensamento tem a pretensão de ser extremamente importante pra você, cada pensamento quer sugar sua atenção completamente.
Não encontramos paz reorganizando os fatos de nossas vidas, mas descobrindo quem somos no nível mais profundo. A realização pessoal significa saber quem você é - essencialmente além da superfície do "eu" - além do nome, do tipo físico, da sua história. A mente pensante é uma ferramenta útil e poderosa, mas torna-se muito limitadora quando invade completamente nossas vidas, impedindo-nos de perceber que a mente por si só é apenas um pequeno aspecto da consciência que somos.
E o pensamento é um pequeno aspecto da mente que realiza inúmeros processos sem que precisemos pensar a respeito. Você não precisa pensar para respirar, para se curar e para que o seu corpo funcione corretamente. São todos processos que não precisam passar pelos pensamentos para serem como são.
E o pensamento é um pequeno aspecto da mente que realiza inúmeros processos sem que precisemos pensar a respeito. Você não precisa pensar para respirar, para se curar e para que o seu corpo funcione corretamente. São todos processos que não precisam passar pelos pensamentos para serem como são.
"A vida da maioria das pessoas é conduzida pelo desejo e pelo medo. O desejo é a necessidade de acrescentar algo a você para ser mais plenamente você mesmo. Todos os medos são medo de perder alguma coisa e, portanto, tornar-se menor, ser menos. Esses dois movimentos nos impedem de perceber que Ser não é algo que possa ser dado ou tirado. O Ser em sua plenitude já está dentro de você. Agora." (Tolle, Eckart. p. 64)
Com que facilidade você fica aprisionado nas armadilhas de seus pensamentos? Quantas vezes se preocupa exageradamente com situações que se resolvem naturalmente? Como dizia um antigo proverbio budista, "Se não tem remédio, porque te queixas? E se tem remédio, porque te queixas?"
Até o tédio pode te ensinar quem você é e quem não é!
Você descobre que não é uma "pessoa entediada". O tédio é simplesmente um movimento de energia condicionada dentro de você. Igualmente, você não é uma pessoa irritada, triste ou medrosa. O tédio, a raiva, a tristeza e o medo não são "seus", não fazem parte da sua pessoa. São estados da mente humana, e por isso, vão e voltam. Observe esse movimento. Nada daquilo que vai e volta é você.
"Estou entediado." Quem sabe disso?
"Estou irritado, triste, com medo." Quem sabe disso?
"Estou irritado, triste, com medo." Quem sabe disso?
Você é a pessoa que sabe disso. Você não é seus sentimentos.
O próximo passo na evolução humana é transcender o pensamento. Isso não significa que não devemos mais pensar, mas aprender a utiliza-lo, sem ser dominado por ele.
Não sabe como fazer isso? Não sabe como desligar a voz na sua cabeça? Não consegue silenciá-la?
Não sabe como fazer isso? Não sabe como desligar a voz na sua cabeça? Não consegue silenciá-la?
Existe uma energia vital que você pode sentir em todo o seu Ser, em cada célula do seu corpo, independente dos seus pensamentos e sentimentos. Sinta essa energia interior do seu corpo, imediatamente o ruído mental diminui. Sinta a energia nas mãos, nos pés, no ventre, no peito. Sinta a vida que você é, a vida que movimenta seu corpo. Medite nessa vida. Dessa forma, o corpo se torna uma porta aberta para uma noção mais profunda da vida que existe debaixo das nossas emoções flutuantes e de nossos pensamentos.
Isabela França
Referências: O Poder do Silêncio, Eckhart Tolle, Editora Sextante, 2005.
Isabela França
Referências: O Poder do Silêncio, Eckhart Tolle, Editora Sextante, 2005.
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