Introdução à Gestalt

segunda-feira, 2 de julho de 2012 | 15:03 | Por 1 comentário
A psicologia  se consolidou, ao longo do século XIX, como uma vertente filosófica; neste período ela estudava tão somente o comportamento, as emoções e a percepção. Vigorava então o atomismo – buscava-se compreender o todo através do conhecimento das partes, sendo possível perceber uma imagem apenas por meio dos seus elementos. Em oposição a esse processo, nasceu a Gestalt – termo alemão intraduzível, com um sentido aproximado de figura, forma, aparência.

Por volta de 1870, alguns estudiosos alemães começaram a pesquisar a percepção humana, principalmente a visão. Para alcançar este fim, eles se valiam especialmente de obras de arte, ao tentar compreender como se atingia certos efeitos pictóricos. Estas pesquisas deram origem à Psicologia da Gestalt ou Psicologia da Boa Forma. Seus mais famosos praticantes foram Kurt Koffka, Wolfgang Köhler e Max Werteimer, que desenvolveram as Leis da Gestalt, válidas até os nossos dias. Com seu desenvolvimento teórico, a Gestalt ampliou seu leque de atuação e transformou-se em uma sólida linha filosófica.

Esta doutrina traz em si a concepção de que não se pode conhecer o todo através das partes, e sim as partes por meio do conjunto. Este tem suas próprias leis, que coordenam seus elementos. Só assim o cérebro percebe, interpreta e incorpora uma imagem ou uma idéia. Segundo o psicólogo austríaco Christian von Ehrenfels, que em 1890 lançou as sementes das futuras pesquisas sobre a Psicologia da Gestalt, há duas características da forma – as sensíveis, inerentes ao objeto, e a formais, que incluem as nossas impressões sobre a matéria, que se impregna de nossos ideais e de nossas visões de mundo. A união destas sensações gera a percepção. É muito importante nesta teoria a idéia de que o conjunto é mais que a soma dos seus elementos; assim deve-se imaginar que um terceiro fator é gerado nesta síntese.

Leis da Gestalt

Resumindo: Gestalt é a soma das formas que formam um todo (Veja alguns exemplos abaixo). O olho humano tende a agrupar as várias unidades de um campo visual para formar um todo, então a percepção é a organização de vários dados sensoriais em um todo ou um objeto.

Observando-se o comportamento espontâneo do cérebro durante o processo de percepção, chegou-se á elaboração de leis que regem esta faculdade de conhecer os objetos. Estas normas podem ser resumidas como:

Semelhança, similaridade
- Semelhança: Objetos semelhantes tendem a permanecer juntos, seja nas cores, nas texturas ou nas impressões de massa destes elementos. Esta característica pode ser usada como fator de harmonia ou de desarmonia visual.

Agrupamos elementos parecidos, instintivamente. Perceba que, por mais que você tente evitar, o rosto se destaca do fundo. Vemos o rosto (que tem um tom mais claro e formas arredondadas) separando-o do fundo.

- Pregnância: Este é o postulado da simplicidade natural da percepção, para melhor assimilação da imagem. É praticamente a lei mais importante.

- Experiência Fechada: Esta lei está relacionada ao atomismo, pensamento anterior ao Gestalt. Se conhecermos anteriormente determinada forma, com certeza a compreenderemos melhor, por meio de associações do aqui e agora com uma vivência anterior.

- Proximidade: Partes mais próximas umas das outras, em um certo local, inclinam-se a ser vistas como um grupo. Aqui vemos isso acontecer no rosto e no fundo:
Proximidade

- Clausura: A boa forma encerra-se sobre si mesma, compondo uma figura que tem limites bem marcados.
Clausura / Fechament
Tendemos a “completar” a figura, ligando as áreas similares para fechar espaços próximos. É fácil ver as bochechas, a língua (escrita “soul”), etc. É o mesmo princípio que nos permite compreender formas feitas de linhas pontilhadas.

- Boa Continuidade: Alinhamento harmônico das formas. Compreendemos qualquer padrão como contínuo, mesmo que ele se interrompa. É o que nos faz ver a “pele” de James Brown como algo contínuo, mesmo com todos os “buracos” das letras.

Continuidade
- Simetria: Imagens simétricas são vistas como parte de um mesmo grupo, pouco importa sua distância. É o que forma o fundo – e o separa do rosto.

Simetria
- Figura-fundo: Do todo uma parte emerge e vira figura, ficando o restante indiferenciado ou num fundo.
Figura-fundo / Figura Cenário ou Segregação
 - Destino Comum: Elementos em uma mesma direção são vistos como se estivessem em movimento e formam uma unidade.

Destino Comum
 - Unidade: Um único elemento que se encerra em si ou como parte de um todo, ou ainda, um conjunto de elementos que configuram um todo. 

Unidade

- Segregação: É a capacidade de separar, identificar, evidenciar ou destacar unidades formais em um todo dependendo da desigualdade dos estímulos produzidos.

Segregação
 - Unificação: Vem da igualdade ou semelhança dos estímulos produzidos. Se verifica através da harmoniaequilíbrio, ordenação visualcoerência da linguagem ou estilo.

Unificação
A Terapia Gestalt

A Gestalt Terapia surgiu pelas mãos do médico alemão Fritz Perls (1893-1970), que tinha grande interesse pela neurologia e posteriormente pela psiquiatria. Por este caminho tornou-se um psicanalista. Ao elaborar novas idéias psicanalíticas, chegou a ser expulso da Sociedade de Psicanálise. Depois de um encontro com Freud, rompeu definitivamente com este campo de pesquisas. Em 1946, Fritz imigrou para a América, instalando-se definitivamente em Nova York, onde conheceu seu grande colaborador, Paul Goodman. Juntos introduziram o conceito de Gestalt Terapia, recebendo depois o apoio e o auxílio da esposa de Fritz, Lore, e de outros autores. Foram inspirados por várias correntes, como o Existencialismo, a Psicologia da Gestalt, a Fenomenologia, a Teoria Organísmica de Goldstein, a Teoria de Campo de Lewin, o Holismo de Smuts, o Psicodrama de Moreno, Reich, Buber e, enfim, a filosofia oriental.

A Gestaltpedagogia

No campo da pedagogia, a Gestalt também encontrou terreno fértil. O russo Hilarion Petzold, radicado na Alemanha, foi o primeiro a apresentar esta possibilidade na área educacional. Em 1977, ele cria a Gestaltpedagogia, uma transferência dos princípios terapêuticos da filosofia da Gestalt para o contexto da educação, com o objetivo de resolver os principais problemas pedagógicos da atualidade.

Mais de 50 anos depois da criação da Gestalt Terapia, estes princípios filosóficos conquistaram seu lugar no panorama psicoterapêutico, bem como na educação e na área de Recursos Humanos das empresas.

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Um comentário:

  1. Ao apresentar o termo Gestalt como um termo intraduzível, você já faz uma inferência sobre a teoria de Gestalt. O ser humano, de certa forma, possui esse caráter de intraduzibilidade. Essa possibilidade de compreensão do homem de maneira individual e holística, para mim, é muito interessante. Visualizo, percebo e intuo essa unimultiplicidade muito forte na existência humana. Qual é a sua opinião sobre a gestalt terapia? O que é preciso para realizar um excelente trabalho tendo a gestalt terapia com parâmetro?

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