Corpo e relações de saber-poder em Michel Foucault

sexta-feira, 29 de abril de 2016 | 11:58 | Por 1 comentário
Pensar o corpo em Foucault significa inevitavelmente discorrer também sobre as relações de poder e saber, tendo como objetivo refletir sobre as construções de subjetividades que são permeadas por estas relações, em uma sociedade que utiliza de mecanismos disciplinares para 'fabricar' sujeitos submissos e reprodutores, docilizando os corpos para fazer a manutenção de um sistema econômico vigente. Como aponta Foucault, nessa sociedade disciplinar, através do saber científico e controle dos corpos, as subjetividades são produzidas por meio de uma luta de forças que o indivíduo enfrenta entre si e o meio em que ocupa num determinado momento histórico.

Considerar novas formas de produção de saber significa ter como consequência a produção de novas subjetividades. Transgredir a normatividade imposta socialmente e resistir conscientemente às condições à que o corpo é submetido é o que abre a possibilidade de liberdade para que o sujeito possa constituir-se mais como si próprio. Essa possibilidade de liberdade se torna viável somente através de uma postura de resistência à condição a que o sujeito é submetido.

Corpo

O corpo deve ser compreendido como construção política, histórica e social. Ao mesmo tempo em que este é submetido e afetado pela gestão social, também a constitui e a ultrapassa. As relações de saber-poder encontram no corpo seu suporte e campo de atuação. Torna-se necessário estarmos o tempo todo buscando o contexto histórico-político em que estas dinâmicas estão inseridas, a fim de que possamos compreendê-las melhor e esclarecer como as subjetividades são historicamente determinadas, resultantes das lutas de forças que o indivíduo estabelece consigo e com o meio. Tendo em vista que as relações de poder-saber-verdade regulam os corpos, consequentemente, influenciam as novas formas de subjetividades que daí resultam. Diante disso, entende-se que mudanças nas relações de saber-poder geram transformações na constituição da subjetividade. 

Relações de Saber-Poder

O poder não deve ser pensado como uma propriedade que alguém possui, mas sim à partir de seu caráter relacional, como relações de força que se estabelecem entre indivíduos ou grupos, e deve ser analisado a partir destes seus componentes. Segundo Foucault, o poder necessita estabelecer uma verdade para operacionalizar suas relações, como também forma, organiza e põe em circulação um saber que viabiliza sua própria existência. O poder, então, produz e conduz efeitos de verdade, que por sua vez, reconduzem esse poder. Como consequência, temos o reinvestimento constante do poder pelo saber e vice-versa, saber este que está a favor dos interesses econômicos.

O discurso da ciência se apresenta como o discurso dominante em nossa sociedade. Este tem como característica ser um discurso formal e universal, que, portanto, funciona como controle disciplinar dos saberes. O que Foucault denominou como ‘sociedade disciplinar’ e suas ‘novas formas’ de punir tem como base o saber sobre o indivíduo, saber este produzido pelo discurso científico.Esta relação de saber científico e poder dominante está a serviço do sistema econômico vigente que, através de mecanismos coercitivos busca manter seus próprios interesses: produzir um certo tipo de indivíduo economicamente produtivo e socialmente adaptado. Nesse sentido, a punição passa a ser uma tática política que busca intervir sobre os corpos de forma a transformá-los em corpos dóceis.

A disciplina ‘fabricaria’ indivíduos; ela é a base de um jogo moderno de opressão sobre os corpos, uma técnica de um poder que toma os indivíduos ao mesmo tempo como objetos e como instrumentos. Através de uma forma de controle cada vez mais intensa, ela “adestra” os corpos, com o objetivo de multiplicar sua força e diminuir a capacidade de resistência política nos indivíduos, tornando-os fiscais de si e do outro. O objetivo é obter o melhor resultado de suas potencialidades, multiplicando as forças produtivas, aliadas a docilidade, para esvaziar a potência do ser em termos de resistência, deixando-o submisso.

O poder se utiliza dos mecanismos disciplinares que atuam sobre os corpos como forma de controle, aumentando sua utilidade em termos econômicos e estabelecendo a sujeição constante de suas forças. Tudo é feito de modo a estabelecer uma ordem sobre o coletivo e extrair o máximo de produtividade sem, no entanto, aumentar sua potência política. A submissão é o que reduz a potência do sujeito em termos de resistência. Uma vez que esta verdade esteja funcionando como norma, estes discursos têm efeitos potentes sobre a sociedade, submetendo os sujeitos a serem constantemente "julgados, condenados, classificados, obrigados a tarefas, destinados a uma certa maneira de viver ou a uma certa maneira de morrer, em função de discursos verdadeiros, que trazem consigo efeitos específicos de poder" (Foucault, 1999, p.29).

Estabelece-se e impõe-se, em função da norma, um padrão que deve ser seguido ou alcançado pelos indivíduos. Como também se determina, analogamente, a "anormalidade". Por consequência, a normatividade tem como característica práticas de exclusão de todos os que não se enquadram no que é determinado.

Assim sendo, Foucault nos permite concluir que, apesar do sujeito ser um efeito dessas relações de poder e saber, isto não significa que ele está determinado de forma inevitável. Poderia pensar-se que falar em sujeitos livres seria uma contradição, já que sujeito é aquele que está sendo sujeitado. Contudo, para Foucault, mesmo sendo assujeitado, os indivíduos possuem possibilidades ilimitadas de comportamentos e condutas diversas. Sendo o poder compreendido como uma relação de forças, ele só pode se exercer sobre algo que é livre, pois, se não houvesse possibilidade de resistência e de reação não seria necessário o exercício do poder, já que nada poderia ser diferente do que já é. Devemos compreender a relação entre poder e liberdade não em termos de exclusão mútua, mas como um par que se provoca a cada instante.

Para escapar das determinações impostas pela norma, o indivíduo tem o dever de buscar exercer sua liberdade na prática, o que só pode ser alcançado através de uma ética elaborada por meio de um conjunto de práticas refletidas e voluntárias, conscientes. Isso só pode ser alcançado por meio de um intenso e permanente trabalho de si sobre si, que tem por finalidade modificar o sujeito em seu próprio ser. Para além dessa dimensão micro, tendo em vista que as relações de poder dão lugar a um saber possível, só seríamos socialmente capazes de produzir novas formas de subjetividades através da produção de novos saberes que reconduzam os efeitos de poder.

Texto de Isabela de França Meira e Fiama Lima Cabral

Referências
FOUCAULT, Michel. “A ética do cuidado de si como prática da liberdade.” In: Ética, sexualidade e política, por Michel FOUCAULT. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004.
_____. História da Sexualidade 3: O Cuidado de Si. Rio de Janeiro: Graal, 1985
_____. Em defesa da sociedade: curso no College de France (1975-1976). Tradução de Maria Ermantina Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial

Um comentário:

  1. Olá amigos, meu nome é Camila Rodela e eu sou de Michigan, Estados Unidos. Estou aqui para testemunhar as boas obras de DR.OGAGA ​​KUNTA em minha vida. Meu marido e eu casamos há 27 anos com dois filhos. Dois anos atrás, tudo acabou. Eu queria meu marido de volta e eu o implorei, mas ele nunca ouviu, então, eu encontrei vários depoimentos sobre esse lançador de feitiços em particular. Algumas pessoas testemunharam que ele trouxe seu amante Ex de volta, alguns testemunharam que ele restaura o útero e cura câncer, e outras doenças, alguns testemunharam que ele pode lançar um feitiço para parar o divórcio e também soletrar para obter um trabalho bem remunerado assim por diante. Ele é incrível, eu também encontrei um testemunho particular, era sobre uma mulher chamada Vera, ela testemunhou sobre como ele trouxe de volta seu amante Ex, e no final de seu depoimento ela deixou seu email. Depois de ler tudo isso, eu decidi para tentar. Entrei em contato com ele por e-mail e expliquei meu problema para ele. E ele me disse o que eu preciso fazer, eu fiz e meu marido voltou para mim. Nós resolvemos nossos problemas, e nós ficamos ainda mais felizes do que nunca. DRAGOGA KUNTA você é um homem dotado e não vou parar de publicá-lo porque ele é um homem maravilhoso. Se você tem algum problema e está à procura de um verdadeiro e genuíno conjurador de feitiços, experimente-o a qualquer momento, ele é a resposta para seus problemas. Você pode contatá-lo por e-mail: ogagakunta@gmail.com e resolver seus problemas como eu. Ele pode resolver os seguintes problemas e muito mais.
    (1) SE VOCÊ QUER O SEU EX-BACK
    (2) VOCÊ QUER CONVIVER SEU MARIDO PARA PARAR O DIVÓRCIO
    (3) VOCÊ QUER SER PROMOVIDO NO SEU ESCRITÓRIO
    (4) VOCÊ QUER HOMENS E MULHERES PARA FUNCIONAR ENCONTRAM VOCÊ ATRATIVO
    (5) SE VOCE QUER CONCEITAR UMA CRIANÇA
    (6) VOCÊ QUER SER RICO
    (7) VOCÊ QUER QUE SEU MARIDO AMAR SEU SÓ PARA O DESCANSO DE SUA VIDA
    (8) VOCÊ PRECISA BOM SORTE
    (9) VOCÊ PRECISA DE UM SALVO DE LOTERIA
    (10) VOCÊ PRECISA UM TRABALHO
     ogagakunta@gmail.com

    ResponderExcluir