Vasily Grossman
Em que consiste o bem? Em que consiste a bondade? O que as diferencia? “Existirá um bem universal, aplicável a todas as pessoas, a todas as tribos, a todas as situações da vida? Ou será que o meu bem está no mal para ti, o bem do meu povo está no mal para o teu povo? Será o bem eterno, imutável, ou o bem de ontem torna-se o mal de hoje, enquanto o mal de ontem se torna o bem de hoje?” É o que é questionado em “Vida e Destino”, de Vasily Grossman. Segundo reflexões provocadas por Vasily, a noção de “bem” vem sendo reduzida quando o bem é particular, pertencente a algum grupo, perdendo, assim, o caráter universal.

Sendo assim, surgem vários “bens particulares”, o bem para os cristãos, o bem para os muçulmanos, o bem para os judeus... Há o bem dos ricos e dos pobres, dos brancos e dos pretos, e assim por diante... De fragmentação em fragmentação, o bem surge dentro de um grupo, separado dos diferentes, seja pelo critério que for – raça, classe, religião, etc. E o Outro – qualquer um que estiver “fora do círculo fechado” desse grupo – já não é mais abrangido por esse bem. Os que lutam pelo seu bem particular, tentam passar-lhe um caráter de aparência universal, afirmando que “seu bem” é o necessário para todos.
*Para entender melhor este artigo, leia antes sobre o processo de individuação (crescimento psicológico) descrito por Carl Jung: aqui.

A individuação nem sempre é uma tarefa fácil ou agradável, e o indivíduo precisa ser relativamente saudável em termos psicológicos para começar o processo. O ego precisa ser forte o suficiente para suportar mudanças tremendas, para ser virado pelo avesso no processo de individuação.
"Pode-se-ia dizer que todo o mundo, com sua confusão e miséria, está num processo de individuação. No entanto, as pessoas não o sabem, esta é a única diferença. A individuação  não é de modo algum uma coisa rara ou um luxo de poucos, mas aqueles que sabem que passam pelo processo são considerados afortunados. Desde que suficientemente conscientes, eles tiram algum proveito de tal processo." (Jung, 1973, p. 442)
De acordo com Jung, todo indivíduo possui uma tendência para a individuação ou autodesenvolvimento. "Individuação significa tornar-se um ser único, homogêneo, na medida em que por 'individualidade' entendemos nossa singularidade mais íntima, última e incomparável, significando também que nos tornamos o nosso próprio si mesmo. Podemos, pois, traduzir 'individuação' como 'tornar-se si mesmo'" (Jung, 1928, p.49).

Individuação é um processo de desenvolvimento da totalidade e, portanto, de movimento em direção a uma maior liberdade. Isto inclui o desenvolvimento do eixo ego-self, além da integração de várias partes da psique: ego, persona, sombra, anima ou animus e outros arquétipos inconscientes. Quando tornam-se individuados, esses arquétipos expressam-se de maneiras mais sutis e complexas.

"Quanto mais conscientes nos tornamos de nós mesmos através do autoconhecimento, atuando, conseqüentemente, tanto mais se reduzirá a camada do inconsciente pessoal que recobre o inconsciente coletivo. Desta forma, vai emergindo uma consciência livre do mundo mesquinho, suscetível e pessoal do eu, aberta para a livre participação de um mundo mais amplo de interesses objetivos. Essa consciência ampliada não é mais aquele novelo egoísta de desejos, temores, esperanças e ambições de caráter pessoal, que sempre deve ser compensado ou corrigido por contratendências inconscientes; tornar-se-á uma função de relação com o mundo de objetos, colocando o indivíduo numa comunhão incondicional, obrigatória e indissolúvel com o mundo." (Jung, 1928)
Cada uma das principais estruturas da personalidade são arquétipos, incluindo o ego, a persona, a sombra, a anima (nos homens), o animus (nas mulheres) e o self. Quando tornam-se individuados, esses arquétipos expressam-se de maneiras mais sutis e complexas.

O ego
O ego é o centro da consciência e um dos maiores arquétipos da personalidade. Ele fornece um sentido de consistência e direção em nossas vidas conscientes. Ele tende a contrapor-se a qualquer coisa que possa ameaçar esta frágil consistência da consciência e tenta convencer-nos de que sempre devemos planejar e analisar conscientemente nossa experiência. Somos levados a crer que o ego é o elemento central de toda a psique e chegamos a ignorar sua outra metade, o inconsciente.

De acordo com Jung, a princípio a psique é apenas o inconsciente. O ego emerge dele e reúne numerosas experiências e memórias, desenvolvendo a divisão entre o inconsciente e o consciente. Não há elementos inconscientes no ego, só conteúdos conscientes derivados da experiência pessoal.
De acordo com Jung, o inconsciente se expressa primariamente através de símbolos. Embora nenhum símbolo concreto possa representar de forma plena um arquétipo (que é uma forma sem conteúdo específico), quanto mais um símbolo harmonizar-se com o material inconsciente organizado ao redor de um arquétipo, mais ele evocará uma resposta intensa, emocionalmente carregada.

Jung está interessado nos símbolos "naturais" que são produções espontâneas da psique individual, mais do que em imagens ou esquemas deliberadamente criados por um artista. Além dos símbolos encontrados em sonhos ou fantasias de um indivíduo, há também símbolos coletivos importantes, que são geralmente imagens religiosas, tais como a cruz, a estrela de seis pontas de David e a roda da vida budista. "Assim como uma planta produz flores, assim a psique cria os seus símbolos." (Jung, 1964, p.64)
Carl Gustav Jung nasceu na Suíça a 26 de julho de 1875. A concepção de Jung sobre o inconsciente pessoal é semelhante ao inconsciente da teoria psicanalítica. O inconsciente pessoal é composto de memórias esquecidas, experiências reprimidas e percepções subliminares. Jung formulou também o conceito de inconsciente coletivo, também conhecido como impessoal ou transpessoal. Seus conteúdos são universais e não-estabelecidos em nossa experiência pessoal. Este conceito constitui, talvez, a maior divergência em relação a Freud, e ao mesmo tempo, sua maior contribuição à Psicologia.

Jung escreve que nós nascemos com uma herança psicológica, que se soma à herança biológica. Ambas são determinantes essenciais do comportamento e da experiência. "Exatamente como o corpo humano representa um verdadeiro museu de órgãos, cada qual com sua longa evolução histórica, da mesma forma deveríamos esperar encontrar também, na mente, uma organização análoga. Nossa mente jamais poderia ser um produto sem história, em situação oposta ao corpo, no qual a história existe" (Jung, 1964, p. 67). Nossa mente inconsciente, assim como nosso corpo, é um depositário de relíquias do passado.
A "inteligência emocional" é descrita por Daniel Goleman como capacidade de ter consciência de seus sentimentos e de saber usá-los, capacidade de gerenciar seu temperamento, ser otimista e solidário, e conseguir empatia com os sentimentos de outras pessoas. É elevado então, o conceito de "maturidade emocional", em oposição a inteligência mensurada pelos testes de QI, derrubando-se o mito da genialidade intelectual.
As selfies já fazem parte do nosso dia a dia. Registrar a própria imagem em um bom ângulo e postar na rede se tornou tão comum que poucos ainda não se renderam a essa forma de estar presente no seu círculo virtual. Mas o que chama a atenção é que há algum tempo as selfies tem crescido excessivamente, em algumas pessoas demonstrando uma fixação em si mesmo.

Uma pesquisa da Academia Americana de Plástica Facial e Cirurgia Reconstrutiva fez um levantamento com 2,7 mil cirurgiões americanos e concluiu que um em cada três profissionais pesquisados registrou “aumento nos pedidos de procedimentos porque os pacientes estão mais preocupados com os olhares nas redes sociais”. (Para ler mais sobre a pesquisa, acesse: "Com a febre dos 'selfies', cresce número de cirurgias plásticas nos EUA"). Será que há algo por trás desse comportamento? O que estimula as pessoas a ficarem tão preocupadas com a própria imagem?