Por que os “reality shows” fazem tanto sucesso?

sexta-feira, 25 de outubro de 2013 | 13:49 | Por 4 comentários
Sob definição, “reality show” significa um programa televisivo que se baseia na “vida real”, e os visados da história, não seriam personagens fictícios, mas sim “pessoais reais”. Porém, sabemos que não é bem assim que as coisas realmente funcionam...

As pessoas escolhidas para participar, ditas como “pessoas comuns e normais”, no caso do Big Brother Brasil, por exemplo, são escolhidas por motivos específicos, para assumirem seu papel. Alguns desses papéis são essenciais em todas as edições, como: pelo menos um negro, uma pessoa “explosiva”, algumas mulheres e homens, cujo padrão de beleza é o mais “aceito socialmente” na Hiper-Modernidade, algum homossexual e alguém de classe média baixa.

Pronto, esta é a receita. Assim, um programa no formato do Big Brother, consegue atrair um público diverso, que varia de homens que assistem para ver qual vai ser a próxima mulher que vai pousar na “Playboy”, passando por pessoas apenas curiosas, que se divertem assistindo as confusões e brigas que acontecem dentro da casa onde os participantes ficam confinados, é assistido também por pessoas que desejam “fama e dinheiro”, algo que se consegue “facilmente” nesses programas; Os “15 minutos” de fama atraem essas pessoas, que sonham um dia também poderem participar de alguma edição. Alguns também assistem por acreditarem ser um “jogo justo”, onde elas tem o poder de votar e decidir quem é o “mais merecedor” daquele prêmio. Ou seja, pessoas que assistem porque os “reality” funcionam como um “God-Mode Play”, isto é, dá as pessoas o poder de interferir em eventos na vida dos “players”, como se fosse realmente um “jogo da vida”, onde inclusive, a eliminação no “paredão” significa uma “morte”, que é um, dentre vários outros signos que existem nos programas. Ou seja:

"Temos aí a operação básica da pós-modernidade: a transformação da realidade em signo. Simulacro = signo. (...) Mas e daí? Daí que, se o real é duro, intratável, o simulacro é dócil e maleável o suficiente para permitir a criação de uma hiper-realidade. Intensificado, estetizado, o simulacro faz o real parecer mais real, dá-lhe uma aparência desejável." 

Infelizmente, esse enorme sucesso também se deve ao fato de muitos preferirem a vitrine ao invés do espelho, onde teriam que dar conta de sua própria realidade. Ironicamente, a última coisa que se terá acesso acompanhando um reality show é a realidade; especialmente a sua. É muito mais fácil chegar depois de um dia duro de trabalho e lidar com uma distração como o BBB, julgando a vida alheia, do que lidar realmente com seus próprios problemas e angústias. Segundo Santos (1986, p. 12),

“O simulacro, tal qual a fotografia a cores, embeleza, intensifica o real. Ele fabrica um hiper-real, espetacular, um real mais real e mais interessante que a própria realidade. (...) O hiper-real simulado nos fascina porque é o real intensificado na cor, na forma, no tamanho, nas suas propriedades. É um quase sonho. (...) O ambiente pós-moderno significa basicamente isso: entre nós e o mundo estão os meios tecnológicos de comunicação, ou seja, de simulação. Eles não nos informam sobre o mundo; eles o refazem a sua maneira, hiper-realizam o mundo, transformando-o num espetáculo." 

Enfim, a vida daquelas pessoas que estão “na telinha”, acaba parecendo mais interessante do que a vida do próprio telespectador. Assim, os “reality” atraem um público variado, de diversas idades e classes sociais. Alguns criticam, com o argumento de que “quem assiste a esse tipo de programa é porque não tem instrução ou é burro”, porém, na realidade, muitas pessoas bem instruídas também acompanham esse tipo de “show”, pois não é isso que define a capacidade intelectual de cada um, apesar de contribuir. 

Além disso tudo, é notável que todos os reality shows tem como característica um apelo sexual fortíssimo. Trazendo em cena sempre mulheres, que são colocadas e vistas apenas como objetos sexuais, e homens que são vistos como galãs e “pegadores”. Nenhum reality show dá “ibope” se não tiver aquele casal, da gostosona com o saradão, que bebem nas festas e vão parar “embaixo do edredom”. Para o Brasileiro, é uma boa pedida: festa, bebida, gente bonita e sexo. 

Esse é o tipo de programa que trás a cara da Hiper-Modernidade. Se encaixando perfeitamente na política do “pão e circo”, assim como o futebol, o carnaval e a novela.

Os reality shows são um mal? Talvez não sejam mais do que desdobramentos da nossa própria incapacidade de olharmos para nós mesmos com a devida profundidade, algo comum no cenário hiper-moderno, onde o sujeito está “dessubstancializado”, ou seja “o referente (a realidade) se degrada em fantasmagoria e o individuo perde a substância interior, sente-se vazio, sem identidade”. A isso os filósofos estão chamando desreferencialização do real e dessubstancialização do sujeito. O mal, nesse caso, surge quando o sistema utiliza essa incapacidade como artifício de controle da massa. Quanto mais alienação, menos resistência à opressão e às desigualdades sociais.

Isabela França

Referência:
SANTOS, Jair Ferreira dos. O que é Pós-Moderno. Coleção Primeiros Passos. Editora Brasiliense, 1986.
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4 comentários:

  1. Ótimo texto! Por mais que isso dependa da postura da pessoa, os reality shows ao nível de BBB acabam cumprindo a função de desligar as pessoas de si mesmas. O telespectador acaba assumindo uma postura de julgador, querendo ou não. É julgando a vida dos outros que deixamos de olhar para a nossa: procurar o que não nos satisfaz em nós mesmo, quais são nossos erros, o que queremos para nossa vida. Enfim, uma ótima página, passarei a acompanhá-la, continue com o belo trabalho!

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